Guia de transliteração de caracteres não latinos (identificação de armas e munições)

Guia de transliteração de caracteres não latinos – identificação de armas e munições

 

As inscrições relativas à identificação de armas e munições estão relacionadas a decisões dos fabricantes e/ou dos países de origem/destino desses artefatos, por consequência, o idioma com o qual essas informações são registradas.

A presença de caracteres não latinos, a exemplo do cirílico e do árabe, em armas e munições geralmente dificulta a investigação sobre a origem desses engenhos para os falantes de línguas romano-germânicas, de modo que a identificação comumente se procede pela transliteração dos caracteres do idioma original para o alfabeto latino

Fig. 1 - Inscrição "9-Д ППУ-82" na base de um estojo da marca Prvi Partizan (Sérvia). Depois do número 9 segue uma letra cirílica, não se tratando assim de um triângulo, mas da letra D, de Dugi, que em sérvio significa longo, de modo que a inscrição deve ser lida como PPU 82 [ano] 9 [calibre] Longo. Créditos da imagem e nota explicativa (tradução minha): AFTE.
Fig. 1 – Inscrição “9-Д ППУ-82” na base de um estojo da marca Prvi Partizan (Sérvia). Depois do número 9 segue uma letra cirílica, não se tratando assim de um triângulo, mas da letra D, de Dugi, que em sérvio significa longo, de modo que a inscrição deve ser lida como 9 [calibre] Longo PPU 82 [ano] . Créditos da imagem e nota explicativa (tradução minha): AFTE.
Fig. 2 – Inscrição estilizada em cirílico "БПЭ", abreviatura de Барнаульский патронный завод1, que corresponde no alfabeto latino a "BPZ" (Barnaulʹskij patronnyj zavod)2 - Fábrica de cartuchos Barnaul (Rússia). Créditos da image: AFTE.
Fig. 2 – Inscrição estilizada em cirílico “БПЭ”, abreviatura de Барнаульский патронный завод1, que corresponde no alfabeto latino a “bpz” (barnaulʹskij patronnyj zavod)2 – Fábrica de cartuchos Barnaul (Rússia). Créditos da image: AFTE.

 

A romanização de alfabetos como o cirílico, o árabe ou mesmo de línguas orientais requer, por vezes, certos cuidados para uma transliteração apropriada, seja pelo considerável número de variantes idiomáticas que usam o mesmo alfabeto, como pelos sistemas normativos de transliteração que, não obstante se assemelhem na maioria dos caracteres, apresentam diferenças.

No caso do alfabeto cirílico, foi optado por anotar alguns3 caracteres referentes à transliteração para o alfabeto latino das normas ISO 9 (1995, p. 3-6) e GOST (7.79-2000, sistemas A e B, p. 4-8, 12-3). Contudo, há outros sistemas de transliteração cirílica4, a exemplo do elaborado pela United Nation (2007), a saber, tal trabalho perfaz a transliteração para o latino de 28 diferentes idiomas5.

Acerca da transliteração do alfabeto árabe, aqui foi reproduzido o trabalho de BwVC (2011, p. 199). Para uma lista mais extensa de caracteres árabes e de suas variantes, cf. United Nation (2007, p. 11-4).

 

Quadro 1 – Transliteração de alguns caracteres do alfabeto cirílico para o alfabeto latino – cf. ISO 9 (1995) e GOST (7.79-2000) — adaptado

Cirílico
(caracteres)
ISO (1995)°;
GOST 7.79-2000 (sistema A)
GOST 7.79-2000
(sistema B)*
а А a A a
б Б b B b
в В v V v
г Г g G g
д Д d D d
ђ Ђ đ Đ
ѓ Ѓ ǵ Ǵ g`*
е Е e E e
ё Ё ë Ë yo*
є Є ê Ê ye*
ж Ж ž Ž zh
з З z Z z
ѕ Ѕ ẑ Ẑ z`*
и И i I i*, y`*
й Й j J j*
і І ì Ì i, i`*
 ї Ї ї Ї yi*
ј Ј ǰ J̌ j*
й Й j J j*
к К k K k
л Л l L l L
љ Љ l̂ L̂ l`*
м М m M m
н Н n N n
њ  Њ n̂ N̂ n`
о О o O o
п П p P p
р Р r R r
с С s S s
т Т t T t
ћ Ћ ć Ć
ќ Ќ ḱ Ḱ k`*
у У u U u
ў Ў ŭ Ŭ u`
ф Ф f F f
х Х h H x
ц Ц c C cz, c
ч Ч č Č ch
џ Џ d̂ D̂ dh*
ш Ш š Š sh
щ Щ ŝ Ŝ shh*, sth*
ъ Ъ ʺ “*, a`*
ы Ы y Y `*
ь Ь ʹ `*
э Э è È e`*
ю Ю û Û yu*
я Я â Â ya*

OBS: (°) Cf. ISO 9:1995, transliteração para o alfabeto latino de caracteres cirílicos do alfabeto eslavo (búlgaro, bielorrusso, macedônio, russo, servo-croata e ucraniano). (*) Confira GOST (2001, p. 12) acerca de quais, dentre as variantes linguísticas tradadas na norma (russo, bielorrusso, ucraniano, búlgaro, macedônio), se aplica a referida transliteração.

 

 

Quadro 2 – Transliteração do alfabeto árabe para o latino6-7

Árabe Latino
ا ā
ب b
ت t
ث t
ج ǧ
ح h
خ h (kh, x)
د d
ذ d (dh)
ر r
ز z
س s
ش š (sh)
ص ş
ض d
ط ţ
ظ z
ع ‘ayn
غ ġ (gh)
ف f
ق q
ك k
ل l
م m
ن n
ه h
و w / ū
ي y / ī

 

NOTAS

1. Em russo, conforme descrito no website da própria empresa: https://www.barnaulpatron.ru/ru/.

2. Texto em russo, descrito na nota 1, transliterado para o alfabeto latino com a ferramenta da Lexilogos. Disponível em: https://www.lexilogos.com/keyboard/russian_conversion.htm. Acesso 31 jul 2023.

3.  A relação completa de caracteres que consta nas referidas normas pode ser acessada através dos links disponibilizados na seção de referências.

4. Anotações relevantes sobre a transliteração do cirílico para o alfabeto latino podem ser acessadas nos links abaixo. Por se tratar de websites externos, as fontes de referência são de responsabilidades de seus autores:

– ISO 9-1995;
GOST 16876-71;
Romanization of Cyrillic;
– Cyrillic script;
– Scientific transliteration of Cyrillic;
– Unicode (Latin-Cyrillic, CLDR Version 25).

5. O documento da United Nation (2007) contém a transliteração do alfabeto latino para 28 diferentes idiomas: amárico, árabe, assamês, bengali, búlgaro, chinês, grego, gujarati, hebraico, hindi, canarês, khmer, cirílico macedônio, malaiala, marathi, mongol (China), nepalês, oriá, persa, punjabi, russo, sérvio, tamil, telugu, tailandês, tibetano, uigure e urdu.

6. Inscrições em árabe devem ser lidas da direita para a esquerda.

7. Uma ferramenta de transliteração do alfabeto árabe para o latino é disponibilizada pela Lexilogos. Disponível em https://www.lexilogos.com/keyboard/arabic_latin.htm.

 

REFERÊNCIAS

BwVC – Bundeswehr Verification Center. Small Arms & Light Weapons – guide 2021. Geilenkirchen: Bundeswehr Verification Center, s.d. [2021]. Disponível em https://www.bicc.de/uploads/tx_bicctools/SALW_Guide_2021_Edition.pdf. Acesso: 31 jul 2023.

GOST [ГОСТ]. ГОСТ 7.79-2000 (ИОС 9-95) [GOST 7.79-200 (ISO 9-95] – Rules of transliteration of Cyrillic script by Latin alphabet. Minsk: GOST, 2001. [texto em russo]. Disponível em: https://ifap.ru/library/gost/7792000.pdf. Acesso 28 ago 2023.

ISO – International Organization for Standardization. ISO 9:1995: Information and documentation – Transliteration of Cyrillic characters into Latin characters – Slavic and non-Slavic languages. Genève: International Organization for Standardization, 1995. Disponível em: https://cdn.standards.iteh.ai/samples/3589/3b8e97e9a40c4e668f22b30a0735fd4a/ISO-9-1995.pdf. Acesso 28 ago 2023.

UNICODE. Latin-Cyrillic Transliteration Chart. CLDR Version 25. 18/03/2014. Disponível em:  https://www.unicode.org/cldr/cldr-aux/charts/25/transforms/Latin-Cyrillic.html. Acesso: 31 jul 2023.

UNITED NATIONS (UN). Technical reference manual for the standardization of geographical names. New York: United Nations, 2007. Disponível em: https://cdn.standards.iteh.ai/samples/3589/3b8e97e9a40c4e668f22b30a0735fd4a/ISO-9-1995.pdf. Acesso 28 ago 2023.

 

Como citar: Guia de transliteração de caracteres não latinos (identificação de armas e munições). In: SOUZA, Hudson C. S. de. Dicionário de Balística Forense - Edição Crítica. Disponível em https://dicionario.balistica-forense.com/guia-de-transliteracao-de-caracteres-nao-latinos/. Acesso em: 05/01/2025. eBook. ISBN: 978-65-00-77905-9.

 

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