mosquete

mosquete (al. muskete; esp. mosquete; fr. mousquet; ing. musket, musket rifle; it. moschetto)

Arma de fogo de cano longo cujo guarda-mão se estende até próximo à saída do cano1.

Originalmente, o termo mosquete se referia apenas às armas de fogo longa de antecarga com cano de alma lisa, que utilizava pederneira ou percussão como sistema de ignição, cuja evolução terminológica, nos EUA, fez com que as versões de infantaria com cano raiado fossem denominadas de rifle2; as curtas, mosquetão3, posteriormente redesignadas para carabina4-5.

A palavra que designa a arma derivada do arcabuz7, o mosquete, em português, tem origem no vocábulo francês mousquet (DELP, s.v. mosquete) que, por sua vez, oriunda do italiano moschetto (CNRTL – TLFi, Académie 9e éd., s.v. mousquet), a qual, no italiano, cf. DELI (s.v. moschétto), teria evoluído para a ideia de arma bélica como uma ave de rapina (como falcões e gaviões) por meio das noções oriundas das palavras moschetta e moschetto, a primeira, uma seta (ou flecha) lançada por uma balestra, a segunda, uma peça de artilharia de pequeno calibre, tratando-se do diminutivo de mosca, em alusão ao “voo e zumbido” produzidos pelo referido inseto. Contudo, MDD (s.v. moschetto) anota que o termo italiano  moschetto seria derivado do nome de uma ave denominada de “moschetto”, “muschetto” ou “muscetto”, notória por caçar moscas. Como também anota Skeat (2005, s.v. musket) sobre a conexão da designação da arma e o termo italiano mosquetto, ou seja, mosca, e que alguns pássaros também eram assim denominados.

 

Mosquetão (mosquete curto) ou carabina (rifle curto) de tiro unitário por ação de alavanca (lever action), calibre .22 Short/LR, marca Winchester, modelo 1885 Single Shot Musket (Winder). Crédito da imagem: National Firearms Museum.

 

Fig. 2 – Mosquetão (i.e., mosquete curto): Remington Swedish Model 1864 Breechloading Engineer & Artillery Musketoon (rolling-block action)6. Créditos da imagem: Wikimedia – Commons.

 

DISCUSSÃO
I) Há autores que, como TOC (p. 97) e OLV (s.v. mosquetão), definem o termo mosquetão com a adoção de predicados acidentais como essenciais, visto que não foi encontrada, na literatura aqui referenciada, seja na definição do termo mosquete, como na de sua variante menor, mosquetão, a caracterização desses — sobretudo no contexto apresentado pelos autores, i.e., moderno e contemporâneo, vista a omissão de características históricas — pela inclusão das  especificidades do mecanismo de funcionamento descritas nos textos dos mencionados autores, a saber, de repetição [não automática] por acionamento de ferrolho. Tampouco foi encontrado lastro que confirme a medida de comprimento do cano comumente (“em regra”) encontrada nos mosquetões, citada por TOC (loc. cit.).

A simples evidência histórica da existência de mosquetes e mosquetões que não atendem aos critérios dos citados autores torna autoevidente a inadvertência. A exemplo dos mosquetes de tiro unitário produzidos pela Winchester8, modelo 1885 Single Shot Musket, fabricados com notável variedade de comprimentos de cano (de 381mm (15″) a  762mm (30″)) e de calibres (do 22 BB CAP ao 50-95 Win Express); tal qual, de tiro unitário, é o Remington Zouave Musketoon single shot9, este de antecarga (muzzle loader) e com cano raiado. Como também pelos mosquetes de repetição não automática, que utilizam o sistema de alavanca, não de ferrolho,  como os produzidos pela Winchester10, modelos 1868, 1873, 1876, 1886, 1892, 1895, 1901, 1903 e 1906, ou mesmo o mosquete produzido pela Marlin11, modelo 1889. Como também os mosquetes e mosquetões da Remington, modelos 1864/68/85, de tiro unitário e ação de bloco pivotante (roling block action)12.

NOTAS
1) Definição conforme AFTE (s.v. musket) e SAAMI (s.v. musket). No entanto, SAAMI (loc. cit.) restringe ao escopo das armas militares. STD (s.v. musket) também anota a característica comum  dos mosquetes, i.e., guarda-mão alongado.

2) Cf. FRT (s.v. musket). Descrevem também a evolução terminológica,  MDD (s.vv. moschetto, fucile-moschetto), MUO (s.v. musket) e STD (s.v. musket).

3) Cf. FRT (s.vv. mousqueton, musketoon), BNT (s.v. mousqueton) e Almirante (1896, s.v. mosqueton). No entanto há autores, como MUO (s.v. musketoon) que se limita a aspectos da definição histórica  de mosquetão (i.e., arma longa de antecarga, de alma lisa, com dimensão de carabina), e MDD (s.v. moschettone) retroage ainda mais no aspecto histórico, definindo mosquetão apenas como arma de posição de grosso calibre.

4) Acerca da evolução do termo de mosquetão para carabina, cf. FRT (s.vv. mousqueton, musketoon); sobre a equivalência terminológica, Almirante (1896, p. 1189), BNT (s.v. mousqueton), Mori (s.vv. carabina, fucile ad avancarica a canna rigata) e MUO (s.v. musketoon).

5) Mosquetão não é o aumentativo de mosquete, mas ao contrário, o seu diminutivo, cf. Almirante (1896, s.v. mosqueton), como também registram FRT (mousqueton s.v.) e BNT (s.v. mousqueton), tal qual dicionários linguísticos, a exemplo de CNRTL (Académie 9e éd., s.v. mousqueton), GDLP (s.v. mosquetão), AUR (s.v. mosquetão), BRB (s.v. mosquetão), OED (s.v. musketoon), ONIONS (s.v. musket) e Skeat (s.v. musket), não obstante, HSS (s.v. mosquetão) anota o oposto, i.e., o aumentativo, por inadvertidamente tomar o significado do termo em razão da presença do sufixo “-ão” no étimo (“mosquete + -ão”).

6) Mais detalhes em Shideler (p. 249-50).

7) Cf. MDD (s.v. moschetto).

8) Cf. FRT (s.v. 36465), Cornell (2016, p.65-66, 277), Watrous (1975, p. 30), Wilson (p. 136-7).

9 ) Cf. FRT (s.v. 121546), Shideler (Standard catalog Of Remington firearms, p. 34).

10) Cf. Cornell (Standard catalog of Winchester firearms, 2016, passim).

11) Cf. FRT (s.v. 31519).

12) Cf. Shideler (Standard catalog Of Remington firearms, p.  249-252).

 

Como citar: mosquete. In: SOUZA, Hudson C. S. de. Dicionário de Balística Forense - Edição Crítica. Disponível em https://dicionario.balistica-forense.com/mosquete/. Acesso em: 05/01/2025. eBook. ISBN: 978-65-00-77905-9.

 

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